A complexidade de ser líder reside na relação com o outro. Esta frase é forte e de grande expressividade para o exercício da liderança. Traz um contexto de co-responsabilidades. Uma via de ‘mão dupla’.
A ‘dinâmica’ entre o líder e o liderado é como uma dança. Quanto mais se ensaia, mais próximo se está da perfeição. E, a cada ensaio, são alinhados os descompassos para que ambos estejam no mesmo fluxo e no mesmo ritmo. O produto final é sempre revisitado e mais ensaios são necessários.
Quando as expectativas de ambos – líder e liderado – são atendidas por eles próprios acontece o que chamamos de identificação e que, segundo Davel & Machado (2001), se dá pelo ordenamento da realidade pelo líder e pelo consentimento do liderado, influenciando-os mutuamente de forma positiva.
E o que muda?
Quando você – profissional – apenas precisa atender às suas próprias atividades, prazos e expectativas você rege o ritmo, dá o tom. O ônus e o bônus são seus. Iminentemente seus. A responsabilidade está (quase que) 100% com você, ainda que você preste contas com o seu imediato.
A medida que você passa a liderar um grupo de pessoas, espera-se que suas atribuições se tornem mais complexas – de ordem operacional para o campo tático e/ou estratégico – e que as antigas, até então realizadas por você, sejam demandadas a outros, considerando agora que você tem novas responsabilidades.
E é neste ponto que reside a ‘virada de chave’. Como demandar a outros aquilo que eu fazia tão bem e como ter a aceitação do grupo para este novo cenário e incumbência? Como delegar a execução a terceiros? Do que abro mão: da garantia, da excelência…da entrega!?!
Liderança e relações
Entende-se também por liderança, além de inúmeros conceitos e teorias, a capacidade de zelar pelos processos interpessoais em torno de uma agenda, um objetivo comum. E por que precisamos de um líder para isso?
Porque entende-se que cada pessoa tem um objetivo próprio, uma agenda oculta. E o líder conseguirá trazer os liderados para perto quando puder conhecer esta agenda oculta e auxiliar o liderado para alcançá-la através da busca e da concretização do objetivo comum.
Ou seja, a complexidade de ser líder reside na relação com o outro!
Caso o líder opte por não seguir por este caminho, de ‘descobrimento’ da sua equipe e de cada membro dela, ele não consegue ‘virar a chave’ rumo ao novo contexto e se verá cada vez mais isolado sendo obrigado a tomar para si as suas tarefas antigas e deixando de zelar pelas novas responsabilidades, pois afinal nenhum deles foi capaz de realiza-las (em face da atenção específica de cada um sobre o seu objetivo próprio).
Líder, e como resolver isso?
Líder, não se isole. Não existe papel de líder isoladamente. Aproxime-se de seus liderados para conhecê-los, saber de seus anseios e necessidades e, inclusive, expressar os seus e, através de um plano compartilhado, tente estabelecer as premissas destas novas relações através da dinâmica gerada pelas interrelações, tendo mais chances de assertividade e satisfação.
Lara Mattos
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REFERÊNCIAS
DAVEL E. & MACHADO, H. V. A dinâmica entre liderança e identificação: sobre a influência consentida nas organizações contemporâneas. Revista de Administração Contemporânea. Vol.5 no.3 Curitiba Sept./Dec. 2001